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segunda-feira, 7 de abril de 2014

José, a pedra e eu

Chutei a pedra com a qual me deparei no caminho. Eu seguia à direção alguma, sem rumo ou pressa de chegar. Mas quem essa pedra achou que era para impedir minha passagem ou me fazer tropeçar? Dei-lhe um chute certeiro que até machucou meu pé, e agora sigo a mancar, ainda sem destino.
Pois é José, e agora? Por que razão fora Drummond pôr essa pedra em teu caminho? Ah, mas não foi bem em teu caminho, não é mesmo? Tua poesia não tem nome, assim como a minha. E seguimos caminhos contrários, talvez. Quem sabe para onde você foi e pra onde vou agora? A pedra ficou para trás, outras hão de estar presentes, embora.
E não há mais festas. Luz não há mais. Cadê o povo, José. Onde estará tua mulher, teu discurso, teu cuspe? Eu ainda posso beber, mas não me excedo. Fumar não me apetece e continuo escrevendo meus versos. Para quem, tu perguntas? Ora, ninguém a não ser meu ego egoísta e mesquinho, tão fustigado de decepções. Afinal, quem somos nós, os que escrevem poesia, se onde estamos as palavras não são ditas aos ouvidos, mas aos órgãos genitais?
Cansei, José. E ainda que eu gritasse, gemesse. Ainda que eu tocasse a valsa vienense, ninguém me daria ouvidos. Não sou tão duro como você. Mas também não morro fácil. As paredes que me cercam são mais sufocamento que proteção, e meu cavalo morreu de sede há muito tempo. Eu chutei aquela pedra, José. Contudo, que dor no meu pé, na minha cabeça e no meu peito.

Ah, quem dera saber onde nos leva este caminho.

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