Chutei a
pedra com a qual me deparei no caminho. Eu seguia à direção alguma, sem rumo ou
pressa de chegar. Mas quem essa pedra achou que era para impedir minha passagem
ou me fazer tropeçar? Dei-lhe um chute certeiro que até machucou meu pé, e
agora sigo a mancar, ainda sem destino.
Pois é
José, e agora? Por que razão fora Drummond pôr essa pedra em teu caminho? Ah,
mas não foi bem em teu caminho, não é mesmo? Tua poesia não tem nome, assim
como a minha. E seguimos caminhos contrários, talvez. Quem sabe para onde você
foi e pra onde vou agora? A pedra ficou para trás, outras hão de estar
presentes, embora.
E não há
mais festas. Luz não há mais. Cadê o povo, José. Onde estará tua mulher, teu
discurso, teu cuspe? Eu ainda posso beber, mas não me excedo. Fumar não me
apetece e continuo escrevendo meus versos. Para quem, tu perguntas? Ora,
ninguém a não ser meu ego egoísta e mesquinho, tão fustigado de decepções.
Afinal, quem somos nós, os que escrevem poesia, se onde estamos as palavras não
são ditas aos ouvidos, mas aos órgãos genitais?
Cansei,
José. E ainda que eu gritasse, gemesse. Ainda que eu tocasse a valsa vienense,
ninguém me daria ouvidos. Não sou tão duro como você. Mas também não morro
fácil. As paredes que me cercam são mais sufocamento que proteção, e meu cavalo
morreu de sede há muito tempo. Eu chutei aquela pedra, José. Contudo, que dor
no meu pé, na minha cabeça e no meu peito.
Ah, quem
dera saber onde nos leva este caminho.
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