No orvalho da manhã
Tem a cara já
desfalecida
Nem prazer nem dor
Contenta-se com o ar
cinza que respira
Antes mesmo do segundo
passo o tropeço
Nenhum desejo nem
expectativas
A velha rotina é seu
guia
Grita sua voz rouca
pelas ruas
De porta em porta
De placa em placa
Salvador da Pátria
Precisa-se!
Caminha, cansa, quebra
a cara
Esta cara limpa de
vergonha
E cheia de cachaça
Sua roupa pede troca
Mas o troco é tão
pouco
E a miséria que lhe
resta
Fica para o pão adormecido
Volta para casa sem
ilusão
Carregando seu corpo
Pesado e inútil
Tal qual um soldado
Que ao término da
guerra
Vive um sentimento de
vazio
O filho ingênuo
reclama o brinquedo
Que ausente ficou do
último Natal
A esposa não tem roupa
para lavar
Não tem mesa para pôr
Mal tem amor para dar
A luz agora é de vela
Que fica ao pé do
santo
E nem se vê mais
novela
No televisor preto e
branco
Não há livros, canetas
Nem cabeça para tanta
conta
E a compra de uma vida
mais digna
Fica para a próxima
vez
E ele sabe que ainda
não é o fim do mundo
Apenas o fim do mês.
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