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Poeta, compositor, tímido, deslocado, romântico e contador de mentiras...

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segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Fim do mês

No orvalho da manhã
Tem a cara já desfalecida
Nem prazer nem dor
Contenta-se com o ar cinza que respira
Antes mesmo do segundo passo o tropeço
Nenhum desejo nem expectativas
A velha rotina é seu guia
Grita sua voz rouca pelas ruas
De porta em porta
De placa em placa
Salvador da Pátria
Precisa-se!      
Caminha, cansa, quebra a cara
Esta cara limpa de vergonha
E cheia de cachaça
Sua roupa pede troca
Mas o troco é tão pouco
E a miséria que lhe resta
Fica para o pão adormecido
Volta para casa sem ilusão
Carregando seu corpo
Pesado e inútil
Tal qual um soldado
Que ao término da guerra
Vive um sentimento de vazio
O filho ingênuo reclama o brinquedo
Que ausente ficou do último Natal
A esposa não tem roupa para lavar
Não tem mesa para pôr
Mal tem amor para dar
A luz agora é de vela
Que fica ao pé do santo
E nem se vê mais novela
No televisor preto e branco
Não há livros, canetas
Nem cabeça para tanta conta
E a compra de uma vida mais digna
Fica para a próxima vez
E ele sabe que ainda não é o fim do mundo
Apenas o fim do mês.


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