Cortaram as asas e o avião não caiu. Flutuou no ar
como gavião. À espreita ficou, à espera do mar, pra poder deitar seu corpo
vazio. Vendaram os olhos e da direção não fugiu. Caminhou na estrada como um
cego. Na tentativa ficou, tateando objetos para reconhecer o caminho.
Prenderam-lhe os braços, as pernas e o cérebro.
Saquearam suas ideias, seus sonhos, seu estômago. Não bastou correr. Ficar tão
pouco. Não foram suficientes os ponteiros curtos, os punhos fortes, a saliva
sem sal. Deram-lhe vinagre quando desejou vinho. Deram-lhe água quando atingido
por tiros.
Pobre das pedras! Sem salário, sem paixões. Sem
saber que a vida pesa no asfalto e nos jardins sem grama.
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